sexta-feira, 10 de abril de 2020

Plurale - ESPECIAL CORONAVÍRUS - "Ressignificar é preciso"

Texto publicado no site de Plurale, em 08 de abril de 2020.

https://www.plurale.com.br/site/noticias-detalhes.php?cod=17506&codSecao=28

ESPECIAL CORONAVÍRUS - "Ressignificar é preciso"

Por Nélson Tucci, Colunista de Plurale

Recolhemo-nos à caverna. Ali seremos prisioneiros de nós mesmos. Ou daremos asas à imaginação, derrubando preconceitos (como ensina Platão em Mito da Caverna) e procurando ressignificar a vida. Com a devida licença poética, quero batucar livremente no teclado que se oferece à minha frente. Farei um cozido, digamos, platônico, para tentar quebrar o tédio de leitores encerrados no covil. E o faço não em homenagem a ele, mas é inevitável a lembrança do ministro que comparou jornalistas a cozinheiros. Cozinho, logo existo.

Voltemos à caverna. Há quem se aprofunde no diálogo, extraindo do individual o todo necessário para a transformação. Estes vão dedilhar paredes, sentir o chão, observar e tentar traduzir signos diversos. Haverão de enxergar muitas significâncias dentro de sí. Assim, as cousas externas terão novo sentido. É a ressignificação. Em nossa caverna (Platão diz que passamos a infância nela) haveremos de encontrar os apetrechos necessários para ir tecendo, fio a fio, algo que nos dê um norte. Não é crível nos autocondenarmos a viver na caverna; tampouco que a saída seja logo ali, pois que se assim fosse não mais haveria ninguém em seu útero.

Os mais rasos de percepção, entretanto, não tecem. E, por conseguinte, não param. Andam no retilíneo fixando-se em único ponto, objetificado na palma da mão – em busca do sinal perdido. Os primeiros buscam o elo, os últimos o sinal. A esses, a crença de que a terra é plana satisfaz, pois não será preciso subir montanhas, contornar o caminho e descer para se buscar novos impulsos.

Buscarão o sinal, no final do retilíneo. Passarão por curvas, rios, desafiarão a espeleologia mas não se darão conta, pois querem apenas um sinal (mágico !) que brotará na palma da mão. Até o dia em que travestidos de wi fi chegam os sons, o tão esperado sinal ao final do caminho. Mas o tempo passou e algumas revoluções nos ensinaram e nos consumiram. O tempo passou, célere, e aí já não se precisará mais dele.

Mais que tecer o fio é preciso buscar o norte. É ele que apontará a saída, natural, desse caos. É construindo o conhecimento dentro de cada um que haveremos de encontrar várias saídas. Eu me desafio a pensar que não deva existir uma única. É preciso ressignificar as paredes, o chão, o ar e a própria caverna. Haverá o tempo de deixarmos a vida uterina e partir para a transmarina.

(*) Nelson Tucci é jornalista, cozinheiro extremamente amador e colunista de Plurale.

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