quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Vidas soltas no Mediterrâneo...

No dia 14 último PLURALE publicou ARTIGO, de minha lavra, intitulado "Lampedusa e os pobres a kilo" (veja post abaixo). Hoje, 23, a human ritghs divulgou: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-10-23/human-rights-watch-pede-ue-%E2%80%9Cacoes-concretas%E2%80%9D-para-salvar-vidas-no-mediterraneo

terça-feira, 15 de outubro de 2013

"Lampedusa e os pobres a Kilo". Veja artigo em Plurale

http://www.plurale.com.br/noticias-ler.php?cod_noticia=13066&q=Lampedusa e os pobres a kilo

domingo, 13 de outubro de 2013

Simplesmente Pessoas !

Nem sempre eu escrevo tudo o que gostaria, ou ainda no tempo em que as coisas acontecem. O “mundo” pede cada vez mais da gente e, todos sabemos, o tempo tem de ser dividido, subdividido, multiplicado, amalgamado... enfim, noves fora lá vou eu novamente. SIMPLESMENTE PESSOAS ! - Há pessoas bom caráter. Há pessoas mau caráter. Há pessoas pudicas. Há pessoas despudoradas. Há pessoas ativas. Há pessoas passivas. Há pessoas marcantes. Há pessoas decepcionantes. Há pessoas absolutamente indiferentes. Mas, o tempo todo sabemos que simplesmente HÁ PESSOAS. Há mulheres puras. Há mulheres putas. Há mulheres que não se identificam com nenhuma das anteriores. Há mulheres indiferentes. Há mulheres rotuláveis. Há mulheres sem rótulo algum. Mas, o tempo todo sabemos que HÁ MULHERES. Mas o que eu quero mesmo é tratar das putas. Sem qualquer pretensão de uma análise sociológica – nenhuma mesmo ! – vou aproveitar a despedida da Gabriela, ocorrida no dia 10/10. Hoje, 13, nem deu tempo da missa de 7° dia ainda, mas farei um registro. Gabriela Leite foi prostituta profissional e teve a vida marcada por uma luta. Vítima de um câncer de pulmão, ela morreu na última quinta-feira aos 62 anos. DASPU - P´ra quem não liga o nome à pessoa, Gabriela lançou a griffe Daspu (uma fina ironia à então maior boutique de luxo do País, a paulistana Daslú). Ativista, ela dá nome ao projeto de lei de autoria do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) propondo a regularização daquela que jocosamente é conhecida como “a profissão mais antiga do mundo”, porém sem regulamentação no Brasil. Eu conheci Gabriela Leite. Não no sentido bíblico, mas no intelectual (apenas para satisfazer a curiosidade do leitor/a). Passei uma tarde com Gabi. Eu a entrevistei para uma matéria que escrevi e que também foi objeto de um trabalho escolar no então curso de Magistério de um colégio estadual no bairro de S. Mateus, Zona Leste da Capital de São Paulo. A minha Tarde com Gabi (isso dá nome de programa de TV) foi na sede do IBASE-Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, fundado pelo Betinho, o sociólogo Herbert de Souza (irmão do cartunista Henfil), que se tornou símbolo da cidadania no Brasil ao lançar a Campanha Contra a Fome em 1981. Vejam quanta história tem nesse pequeno post, me entorpecendo o pensamento ao lembrar do quanto o Brasil ainda precisa avançar para suprir tantas e tantas carências... Voltando à Gabriela. Eu estive com ela em 1987 ou 88, não lembro exatamente a data. Mas tenho registrada na memória a parte essencial da nossa conversa. Mulher bonita, educada e, também, encantadora, atendeu-me com cortesia. Quando perguntei o porquê dela ter aderido à profissão, respondeu-me na lata (ela não usava meias palavras): “Sou puta porque gosto”. UAU ! Uma resposta instigante a qualquer jornalista que pretende se debruçar sobre o tema. Gabriela contou-me que era uma menina classe média paulistana, moradora da Vila Mariana, e que um dia resolveu experimentar a brincadeira. Era estudante de filosofia na USP. Foi, experimentou e gostou. E como à época as tais “casas de massagem” e “cafés” não abundavam como abundam hoje... caiu na vida. E foi pra “zona”, como se chamavam os pontos de prostituição. Foi bater calçada e outras expressões que no fim remetem à mesma coisa: prostituição. Perseguida por alguns policiais que a queriam achacá-la, disse-me ela, resolveu peitar os homens da lei. Mas isso não deu muito certo, porque a força era desigual... Daí ficou visada e decidiu mudar para o Rio de Janeiro. Escolheu a Vila Mimosa como seu novo habitat. Gabi, que em 2009 lançou o livro “Filha, mãe, avó e puta” e que em 2010 tentou ser deputada federal pelo RJ, tinha uma clareza de raciocínio extraordinária. Como conhecimento de causa, falou-me sobre preconceito, extorsões, miséria e saúde. Mulher letrada, garantiu que sempre soube defender a sua (embora tenha sido vitimada por um câncer, normalmente fora do nosso controle), mas preocupava-se com a saúde das colegas de trabalho. Amiga do Betinho (morto em 1997, por hepatite C), sabia que a luta pela inclusão social seria muito dura, mas dureza era algo que ela encarava com um sorriso nos lábios. E partiu para a Associação das Profissionais do Sexo. E tentou regulamentar a atividade. Primeiro, junto ao Gabeira (então deputado federal pelo PV-RJ) que apresentou projeto na Câmara mas este não foi em frente. Agora, com o Jean Wyllys (PSOL-RJ) que também se mostrou sensível à causa. A antiga musa da Vila Mimosa e tantas outras vilas, becos e sofás, encerrou a jornada. Foi um adeus rápido. A sua passagem foi breve, mas as sementes que espalhou haverão de brotar. Chegamos a um tempo de sérias reflexões. Não dá mais para sustentar a hipocrisia. Chega daquela “política do avestruz”, que enterra a cabeça na areia pra não enxergar o que não deseja, mas expõe integralmente o traseiro sempre que abaixa essa cabeça. Se a prostituição existe - e por trás dela tem uma indústria poderosa com empresários, intermediários, produto e cliente final – é mais do que óbvia a necessidade de se discuti-la de frente. É preciso proteger “o produto” e o cliente, ainda que isto venha a ser analisado pela ótica capitalista do negócio e do lucro, que permeiam o mundo atual. O “produto” não é um mero objeto do desejo (em muitas vezes nem isso) sem cor, cheiro ou sabor. O “produto” é resultante de uma ação humana. Há gente nesse negócio, expondo a própria carne. Não citei os homens prostitutos (hoje chamados de garotos de programa) para ficarmos na luta original da Gabi, que certamente irá alcançá-los. Apenas quero expor o meu ponto de vista ao destacar que, antes de existirem MULHERES PUTAS, HÁ MULHERES. E antes do “produto” HÁ PESSOAS. Vejam também o BLOG do Francisco Castro: http://www.franciscocastro.com.br/blog/?p=9257#!