quarta-feira, 29 de junho de 2022

Eram pouco mais que duas crianças...

Carla e Griselda, de 16 e 17 anos, respectivamente, eram irmãs. Nascidas na Guatemala, viajavam escondidas para os Estados Unidos, na esperança de encontrar a felicidade prometida (por quem mesmo?). Ontem, 28 de junho de 2022, foram encontradas mortas, em um caminhão, junto a outras vítimas. Ainda não se conhece as circunstâncias da morte nem como chegaram até lá.

Mas é de conhecimento da humanidade a pobreza em que parte de seus semelhantes vive -- ou sobrevive; ou "nenhuma das anteriores".

Eram pouco mais que duas crianças rumando ao desconhecido. Caíram na vala comum aos desvalidos. Eram pouco mais que duas crianças...

Leio, hoje, em página de um amigo (professor universitário) que CINCO das FAMÍLIAS mais abastadas do Brasil têm renda equivalente a 50% da faixa mais pobre dos brasileiros. Não tive ânimo, nem estômago, de pesquisar o assunto. São CINCO sobre CINQUENTA !!!

Nesta toada, alguém arriscaria dizer aonde vai parar a tal Humanidade?

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A vida medida em HPs

No último dia 25 um avião militar britânico deixou o aeroporto de Cabul, capital do Afeganistão, levando algumas pessoas para longe do inferno que está se tornando o país em meio a tiroteios e atentados. É certo que muita gente ficou pra trás, ainda. Alguns desses poderão nunca ter a chance de sair de lá, apenas a vontade. Afinal, daqui a pouquinho vai cessar a retirada.

O que chamou a atenção no avião cargueiro foi um impávido “jipão” embarcado junto de uma seletiva galera. Com seus 2.270 Kg, o Toyota Land Cruiser (modelo daquele colossal veículo) tem o peso equivalente a 32 pessoas (se considerado aquela estimativa `de elevador`, de 70 kg per capita). Em um cálculo (ocidental) de quatro pessoas por família, equivale dizer que oito famílias foram deixadas pra trás para acomodar o jipão. Argumento, lido na internet, é que o Land Cruiser era um veículo muito bom, e moderno, e que os britânicos não queriam deixa-lo cair em mãos malvadas.

Feitas as contas, o intrépido veículo (vendido a US$ 126,5 mil) tomou o espaço de 32 pessoas que, avaliadas, por este critério, valeriam cerca de R$ 20, 7 mil cada uma. Uma merreca de dinheiro, convenhamos. E se o cálculo for por HP, divididos os 204 cavalos de força daquele motor pelas cabeças humanas deixadas pra trás, daria aproximadamente 6,296 HP/per capita. Além de ter um valor comercial bastante baixo, o número de HPs é ínfimo.

Na prancheta, o transporte do jipão foi bom negócio para a turma militar da logística mas, aí, fiquei eu cá a pensar... e se existir um céu em que o ingresso deva ser pago por uma outra moeda, que não HPs ? E se cada uma dessas 32 vidas que “cederam” seus lugares ao cavalo de lata, pudesse produzir – ao longo de suas vidas –, bem mais riquezas para o planeta (e a Vida) que o jipão? Com que cara São Pedro iria preencher a ficha da turma da logística?

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Restaurantes podem ser sustentáveis

Já é hora de pensar em placas solares

(*) Por Nelson Tucci

Matéria-prima básica, Produtos para Higienização, Pessoal, Mobiliário, Aluguel, Ponto, Insumos, serviços de entrega, vigilância sanitária, prefeitura, contador, divulgação etc... Realmente não é fácil a vida de quem empreende no mundo da gastronomia. Ao se fazer o check in list a sensação é de que a coisa não acaba nunca mais. E tal qual as viagens de férias mais longas, ainda cabe aquela “voz que vem de dentro”: será que não esqueci de algo? Mais que um negócio, o setor de alimentos pode ser uma vocação. Uma vocação em servir, em ser útil, participativo. Mas além do lado romântico da coisa (que ficará como tema para um outro artigo), existe a questão do fazer acontecer. Em uma linguagem de negócios, atual, cabe a abordagem do ESG (Environmental, Social and Governance), sigla em inglês que significa gestão ambiental, social e governança.

Alguém pode perguntar: mas o que tem a ver meu negócio com ESG? Isso não é algo para a indústria? Ou ainda: sou tão pequenininho, isso não é pra mim... Resposta: ESG (ou, se preferir aportuguesar ASG – Ambiental, Social e Governança) é um conceito super atual, que cabe no mundo inteiro, até porque o planeta anda pedindo socorro (vide as mudanças climáticas, também tema para outro artigo) e cada um de nós pode colaborar. Um pouquinho de cada um formatará um todo razoável. Pense sempre nisso.

De forma objetiva, cada restaurante pode cuidar do ambiental, fazendo o reúso de água (para áreas externas, como quintais, banheiros, áreas de estacionamento etc), além de evitar o desperdício durante a preparação dos alimentos e no processo de higienização. Utilizando energia elétrica no tempo necessário, em todos os compartimentos, e com equipamentos regulados pode-se economizar, sempre. Cuidar do envio de sobras de alimentos (em condições adequadas de higiene, evidentemente) para os sopões solidários e entidades assistenciais também é medida útil e relativamente simples de ser feita.

Para simplificar o assunto (porque é longo e tem desdobramentos), pense agora em placas fotovoltaicas. Estamos com um aumento de energia elétrica batendo às portas – ou seja, já na próxima conta – e, de tempos em tempos, ameaças de apagão. Fazer a captação de luz solar é extraordinariamente bom para o meio ambiente. E, no médio prazo, rentável pra quem faz. Para se ter ideia, o retorno do investimento ocorre em um período (médio) de três a cinco anos – dependendo de variáveis como área a ser coberta com as placas e a localização (Rio e Minas têm o kWh – quilowatt-hora mais caro que São Paulo, por exemplo). Portanto, se você está em prédio próprio, ou pretende ficar no local alugado por um período longo ainda, já dá para pensar nas placas fotovoltaicas e ser mais sustentável, dando um up na governança e no meio ambiente. E se precisar de orientação, temos aqui um integrante do grupo, o Antonio Kanda (da Itamae), que também é arquiteto e dos bons.

Voltaremos ao tema sustentabilidade. A todos, bons negócios.

(*) Nelson Tucci é jornalista profissional, escreve sobre sustentabilidade para os portais www.plurale.com.br e www.acionista.com.br e, agora, colaborador da plataforma UpG – Unidos pela Gastronomia.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

REtalhos

A vida é feita de retalhos. A gente guarda fragmentos de nossa existência na memória. Muitos. Alguns mais aparentes, mas a maioria - especialmente nesses tempos exagerados de informação - vai sendo jogada lá pro fundo. Alguns escondem-se da gente por anos e anos a fio. E, do nada, a gente vai lá no chamado “arquivo morto” e pesca. Direitinho. E traz de volta a lembrança, aviva, curte, recurte e, como que sem querer, emenda em alguma outra lembrança, ou fato.

Hoje (25/11) eu fiz isso. Juntei mais um retalho. A passagem de D. Diego, talvez mais previsível que gostássemos, mas ainda assim supreendente. Ah, a morte… ela tá por aí, vagando pra lá e pra cá, sempre à espreita por onde quer que a gente ande. Esta velha conhecida, que muitas vezes tenta nos abraçar e a gente “dá um Pelé” nela. Por ter tanta intimidade, nem ligamos mais pra ela… e por isso mesmo a coisa nos distrai e PIMBA! Faz o seu serviço. E quando está braba, leva mesmo. Pois é… ainda hoje ela nos tirou o “Pibe”, aquele moleque irreverente que fez muita gente parar pra vê-lo jogar. D. Diego Maradona está na galeria dos gênios, agora pra sempre. Explicar o que ele fez? Deixa pra lá. Pega um vídeo e mostra. Mais fácil, mais verdadeiro.

GATILHO -- Decidi escrever estas mal traçadas porque a passagem de D. Diego me deu gatilho e me fez lembrar de um amigo, que tb partiu (com mais pressa que o argentino, o meu brother brazuca decidiu ir há uns 15 anos já…) Há 15 anos passados, eu ainda arriscava judiar da grama sintética, batendo uma bolinha todas as quintas-feiras, em uma quadra de “futebol suíço, ou futebol de 7 (e às vezes de 5 mesmo)”. Primeiro no Tatuapé, depois na Pompeia. Era muito divertido. Um certo dia levei este amigo, Toninho, pra lá. O cara se trocou, entrou em campo com uma certa protuberância abdominal e começou, logo a se enturmar, a fazer graça. Na vida, o Toninho tb era irreverente. De soslaio, lembrava o Maradona. Eu levantei essa lebre e o apelidei. Todos em quadra caíram na risada e tb passaram a tratá-lo de “Maradona”. No futebol de hoje, ele seria algo como um terceiro reserva do Jonathas Cafu mas… ali pra gente era o Maradona. Não jogava porra nenhuma, mas a todos divertia, com suas tiradas, inteligentes, e irreverência. Só pra quem o conheceu, privou da sua amizade, e tem memória das vezes que nos acompanhou por lá a historinha faz sentido.

O lance não é a figura do meu amigo, jornalista, corintiano, e que gostava do mercado de capitais tb, em si. O “ó do borogodó” que me atiçou a memória foi ter vindo o Maradona amigo à tona, com a partida do Maradona real. À minha moda, colei mais um retalho. E ao fazer isso, percebo que esta minha colcha está ficando comprida demais. Já há muitos deles colados. Não sei se por covardia ou pela emoção da hora, não quero mais colar retalhos. Já existe um manto suficientemente grande para cobrir tudo o que preciso. Com pedaços de cores diversas, mas quase todas desbotadas. É como se a vida fosse tudo em cor pastel, cada vez que emendo um retalho. Agora vou guardar a agulha e espero não vê-la tão cedo. De preferência, nunca mais. Que não seja ela mais tocada, não pelas minhas mãos.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

P´ra onde mesmo?

Pessoas andam depressa nas ruas. À distância parece-me que todas encaram um ponto fixo no horizonte. Não há olhares doces. Não há sorrisos no rosto. Não há vida querendo se transformar em alegria, somente o olhar perdido de uma paisagem lúgubre. Assim é São Paulo, a cidade que começa a retomar o vai-e-vem das ruas – ainda que a contragosto do sr. prefeito . E para onde vão todos? É possível que nenhum de nós saiba.

#DivagacionesDelEncierro

terça-feira, 21 de abril de 2020

A Data de Tiradentes

Num dia como hoje, em 1985 era anunciada a morte de Tancredo Neves.

Foi um domingo. Lembro-me que pela primeira vez na história do jornal o Diário do Grande ABC tirou uma edição de segunda-feira. Diversos jornalistas correram pra redação a fim de fazer uma edição especial. Eu, que cobri toda a agonia de Tancredo na porta do Hospital do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (o Incor), estava entre esses.

Comentei com o então editor-chefe, dias antes: "Acho que o Tancredo já morreu. Aliás, tenho um palpite: ele morreu no domingo de Páscoa, 14, e só estão escolhendo o dia para anunciar. Aliás, 21 de abril é um dia magnânimo na História, vai daí que...". Mas de onde saiu isto? Quem confirmou? De seus 39 dias de agonia, com sete cirurgias, paradas cardíacas e procedimentos diversos no prontuário, Tancredo sofreu. Junto dele toda uma Nação, em agonia, pois que este representava um momento de esperança. A velha raposa -- que tinha sido um "primeiro-ministro" mal ajambrado na crise do governo Jango, 21 anos antes -- agora encarnava a esperança de um país a ser reconstruído politicamente.

Eu, Carlos Nascimento (Globo), Arnaldo Faria de Sá (Record), um chiliquento da Jovem Pan que não citarei o nome (porque já época se achava mais importante que a notícia...), e mais algns coleguinhas de Dipo, FSP e Estadão, entre outros, estávamos ávidos por notícias. Conversávamos com frequência, mas pouco adiantava para se descobrir novidades. De oficial só os boletins, do outro lado da rua, no Centro de Convenções, com o Brito fazendo as vezes de porta-voz do presidente eleito que não tinha sido empossado. A gente ali na porta, tentando ouvir fontes que chegavam ao hospital -- ou procurando informação fora daquele prédio -- e não se andava um milímetro. A dúvida era: o Tancredo está vivo ou não? Uma colega se vestiu de enfermeira e tentou furar o rigoroso bloqueio que se formou. Não deu certo. Ninguém tinha acesso à fonte primária e mesmo os mais ilustres políticos chegavam, no máximo, no andar em que ele estava. Outros, do baixo clero, nem isso. Faziam visitinha protocolar só para assinar o livro e dar entrevista na porta de um Incor chapado de jornalistas.

Assassinato, ainda em Brasília, era uma das hipóteses mais comentadas mas que pouco levamos a sério. Nestas épocas sempre surgem especulações mil. De reles briga de bar a abduções. Afastadas as teorias mirabolantes, a realidade é que a falta de notícia objetiva incomodava. Eu nunca confirmei, mas deixei a porta do Incor com a sensação de que o cadáver repousou no prédio pelo menos por uma semana. Até porque era preciso "preparar o povo" e, mais que isso, fechar o acordo político. Sarney tinha sido empossado, como vice eleito, mas Tancredo não tomou posse. E a questão político-jurídica era: José Sarney seria empossado, então como presidente (sem que o titular o fosse), ou se cancelaria esta eleição e devolveríamos a bola pro Congresso (que tinha derrotado Maluf, com 72,4% dos votos (480) contra 27,3% (180), registre-se. Veja, no google, o que foi o Colégio Eleitoral). Não, não era possível desmanchar a esperança, depois de 21 anos de verde-oliva na cadeira presidencial. Tinha de existir uma saída civil, ainda que fosse com o Sarney (lugar-tenente dos milicos, ao chefiar o PDS, partido de sustentação da ditadura). Jogavam-se as fichas no tabuleiro do Sarney que, por conta do acordão devidamente costurado pela velha raposa mineira, deveria ter a sensibilidade necessária de fazer a travessia. Sim, sabíamos que era um período de "transição democrática". Sentava-se ali um homem de terno, mas com uma camiseta verde-oliva por debaixo deste. E a transição foi feita. Ao fim do seu governo veio a primeira eleição direta desses novos tempos que Tancredo, espertamente, tinha batizado de "Nova República".

E o resto é história mais recente. O fato é que o 21 de abril de 1985 ficou marcado como mais uma data de altíssima importância na vida política do país. Hoje as pessoas nem lembram mais do que aconteceu outro dia, quanto mais de se aprofundar na história, mas intuitivamente eu continuo acreditando que a Data de Tiradentes é só dele mesmo. O conterrâneo de Joaquim José partiu uma Lua antes.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O Adeus a A. Plöger.

Existem notícias que destroçam a gente. Acabo de saber que morreu (ontem, no domingo de Páscoa) Alfried Plöger, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas, conselheiro da Cia. Melhoramentos (onde construiu a sua carreira profissional) e colaborador do Depto. de Economia da Fiesp, entre outras atividades.

Economista, nasceu na Alemanha há 80 anos mas era brasileiro por opção. “Eu tenho passaporte verde”, orgulhava-se de dizer (antes do Mercosul era esta a cor do nosso passaporte). De voz forte, sempre marcando presença por onde passava, Plöger fará falta. Rigoroso no cumprimento do dever, sempre muito atento a prazos e horários, era um homem ativo e muito admirado por seus pares. Era tanto rigoroso como bem-humorado. Sabia temperar.

Dele ficam várias lembranças nos 15 anos em que convivemos. Em meu último dia de Abrasca, como prestador de serviços – 05 de março último – nos demos o último aperto de mão. Foi cordial e tb foi diferente. Que Deus o tenha e conforte a família.