segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Piancó. O pássaro cantou, bafômetro nele!

Em posts esparsos, já defendi o uso do bafômetro para toda figura pública que fala ao léu ou em discurso oficial. Confesso que a “inspiração” veio da própria História do Brasil. Ela nos dá, com perdão da expressão, ricos exemplos.

Como repórter, entrevistei presidente da República, governador, ministro, deputado, prefeito, vereador e aspone. Passei pela Assembleia Legislativa paulista e cobri sessões de Câmaras Municipais por vários anos. Não me dei ao trabalho de tabular determinados dados baseados em certos comportamentos, por isso hoje só de memória não conseguirei contabilizar se na vida profissional conheci mais bêbados ou mentirosos.

Se uma pesquisa de minha lavra sobre o tema talvez fosse improdutiva para a vida nacional, neste post então não fará a menor falta. Apenas reitero a questão do bafômetro, entendendo-o mais eficaz que folclórico. E uma vez que nos tempos atuais cobramos transparência o tempo todo, por que não o bafômetro para as pessoas públicas antes delas se expressarem? Isto porque a depender da declaração pública de uma autoridade, o tropeço etílico pode gerar um solavanco enorme.

Passado o Carnaval, tradicional festa pagã religiosamente comemorada por todos (seja rasgando a fantasia, seja em “retiro espiritual” ou qualquer outra expressão que se queira utilizar), inclusive pelo Congresso Nacional que se autoaplicou 12 dias de recesso no período, a vida vai retomando o que consideramos normalidade.

Dentro desta normalidade, estão de volta ao trabalho os ilustres vereadores de Piancó (significa “pássaro que canta, em língua indígena”, segundo a internet...). Cidade de 15.000 habitantes, no interior da Paraíba, onde mais de 90% se declaram católicos, tem se notabilizado por uma questão insólita: a Câmara Municipal comprou um bafômetro para uso da própria Edilidade.

A ideia e iniciativa da compra do bafômetro partiu do presidente do Legislativo local, vereador Pedro Aureliano da Silva, alegando a intenção de “acabar com as brigas ríspidas entre os vereadores” que, segundo ele, muitas vezes são causadas pelo consumo de bebidas alcoólicas. “Pelas atitudes de alguns vereadores, a gente suspeitava que eles estavam sob efeito de álcool”, disse o presidente à imprensa.

Como que chancelando as palavras do “nobre colega” (tratamento usual entre os parlamentares), em entrevista à TV Paraíba, um dos ilustres vereadores admitiu que faz uso de bebidas alcoólicas diariamente, “por recomendação médica”. O vereador Antônio Azevedo Xavier, garantiu que não é o único a fazer isso. “Todos os parlamentares aqui bebem. Eu mesmo tomo cinco ou seis doses de uísque por dia, mas por recomendação do meu cardiologista”, disparou.

Adquirido em outubro passado, ao preço de R$ 1.605,00, o bafômetro agora volta a ser o centro das atenções na cidade, porque o presidente da câmara pretende submeter os “nobres colegas” ao teste, sempre que estes forem suspeitos de estar sob efeito de álcool. A Mesa Diretora deverá elaborar as regras para o uso do teste de alcoolemia.

Não sei no que vai dar este episódio, seja no plano local ou como exemplo de atitude incentivadora do decoro em nível nacional, mas confesso que fiquei ouriçado com a notícia.