segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

A comunicação pode tudo

(com a devida autorização da autora, a colega jornalista Franssinete Florenzano, do Pará)

A odontóloga Elsa Barros, que chefia a equipe de odontologia oncológica do Hospital Ophir Loyola, é um exemplo de tratamento humanizado na rede pública. No HOL muitos pacientes vão fazer o tratamento desacompanhados e não podem contar com a ajuda da família para ministrar a medicação, além do que a maioria é muito pobre, analfabeta e tem dificuldades físicas, até por conta da doença. Pois ela explica pacientemente como devem ser ministradas as doses, usa mímica e até desenha nas suas receitas um sol para melhor entendimento de que determinado remédio deve ser ingerido pela manhã, e uma lua e estrelas para marcar que o horário de outra dose é à noite. Gestos de carinho e gentileza que a fazem ser amada por todos.

Uma boa notícia é que já está implantada a laserterapia odontológica no SUS no Pará e no Hospital Ophir Loyola funciona muito bem, sob a coordenação da Dra. Elsa Barros. Esse tratamento reduz pela metade o tempo de cicatrização de feridas e lesões bucais causadas pelo câncer ou efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, e também previne esses problemas, além de múltiplos benefícios para os tecidos irradiados, como ativação da microcirculação, produção de novos capilares, efeitos anti-inflamatórios e analgésicos, e estímulo ao crescimento. É totalmente indolor, não invasivo, eficaz e de rápida aplicação.

MEU COMENTÁRIO - O Brasil tem muitas caras, cheiros e sabores. Nem todos os cidadãos são pilantras. Dos que conheço arrisco dizer que a grande maioria é gente do bem e assim haveremos de continuar, feito formiguinhas, pra lá e pra cá, tornando este país ainda cheio de esperança.

VISITEM o BLOG https://uruatapera.blogspot.com/2019/12/a-comunicacao-pode-tudo.html

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Vida é substantiva, não aposto

ARTIGO publicado no site de Plurale, em 09.02.19

https://www.plurale.com.br/site/noticias-detalhes.php?cod=16649&codSecao=2

Vida é substantiva, não aposto

Quanta custa a indenização de uma propriedade destruída? O cálculo é trabalhoso, porém simples e factível. Agora vamos pensar em termos de patrimônio imaterial. Segundo a Unesco (em português - Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas), o Patrimônio Cultural Imaterial ou Intangível compreende as expressões de vida e tradições que comunidades, grupos e indivíduos em todas as partes do mundo recebem de seus ancestrais e passam seus conhecimentos a seus descendentes. Exemplos: O Círio de Nazaré, do Pará, o frevo pernambucano etc. Em termos monetários não dá pra calcular.

E o sonho? Quanto custa um sonho?

“Persegui a luz? / Mal segui-a, tendo / onde o sonho pus, / uma flor morrendo...” (Alphonsus de Guimaraens Filho). Esta citação de Tânia Du Bois, em seu blog, vem bem a calhar.

É possível mensurar o valor do sonho de Santos Dumont, materializando o desejo de o homem voar – ao longo de sua linha do tempo? Quanto de ideias, projeções, delírios e fantasias se gastou? Alguém consegue montar uma fiel equação sobre tudo o que passou pela cabeça de um menino de apenas 4 anos de idade, da sua preparação à primeira corrida de kart, em 1978, em Le Mans, na França? E desta estreia, aos 18 anos, até o Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, na Itália, aos 34 anos, na fatídica corrida de 1994? Equipamentos esportivos à parte, como mensurar a quantidade de adrenalina produzida? E, ainda que isto fosse possível, qual o peso exato desta adrenalina no coração da pessoa em questão? E para a legião de fãs que Ayrton Senna conquistou? Para o país? Para o mundo?

Há coisas tangíveis em nossa vida. A priori, tudo o que se pode tocar é tangível – daí a expressão valor tangível, mensurando “a coisa”. Mas e aquilo que não é “coisa”, de que trata o substantivo feminino?

Quanto custa o sonho de um menino, louco por uma bola de futebol? E se esse menino nascer em Três Corações, no interior das Minas Gerais, for pra Bauru junto com os pais, e depois jogar em uma dos maiores times do país? E se, de quebra, esse menino der tão certo que será convocado pra Seleção Brasileira, ganhar o campeonato mundial de futebol e desabar em choro, em seus parcos 17 anos, no peito amigo do goleiro Gilmar? Como “monetizar” (palavra da moda) estas lágrimas? Como trazer “a valor presente” o que esse menino ainda haveria de ganhar vida afora? Afinal, como se calcula o valor tangível e o intangível de Pelé, que se transformou em algo muito além de um esportista?

Qual o valor do sonho de alguém que trabalhou 30, 40, 50, às vezes a vida inteirinha para, na velhice, conseguir um naco de terra no interior pra erguer uma casa com uma horta nos fundos, um jardim sempre florido a contemplar? Quanto custa o sonho de se montar uma pousada, em lugar bucólico, para saborear os últimos anos de sua vida – que se imagina sejam ainda suficientes para a purificação da alma e pacificação com a natureza?

Como é que se quantifica o sonho de um menino de rodar 2.000, 3.000 Km para jogar no time do Zico? Que sonhos passam pela cabeça de um gurizinho de 14, 15 anos, de vestir a camisa rubro-negra, ser aplaudido em um Maracanã lotado ou de ter a mesma sorte do Vinícius Jr e brilhar na Europa? Se não dá para calcular o sonho de um menino, tampouco multiplicar isto por 10.

Sonhos não são coisas. A vida precisa ser substantiva, não um aposto entre uma tragédia e outra, porque não é coisa que se compra. A vida só vale se os sonhos forem sustentáveis, ainda que imateriais.