sábado, 27 de janeiro de 2018

A Balança está torta

ARTIGO publicado na Pluraleemsite

http://www.plurale.com.br/site/noticias-detalhes.php?cod=15961&codSecao=2

Por Nélson Tucci, Colunista de Plurale

Não dá para brigar com os números. A Oxfam – ONG que explicita em sua missão: “Contribuir para a construção de um Brasil justo, sustentável e solidário que elimine as causas da pobreza e da desigualdade” – divulgou dados no último dia 22, publicados por Pluraleemsite, revelando que 82% de toda a riqueza gerada no mundo fo i parar nas mãos do 1% mais rico do planeta. No mesmo documento mostrou que no Brasil apenas cinco pessoas têm patrimônio equivalente ao da metade da população; ou seja, 100 milhões de pessoas precisariam juntar todas as moedinhas, tábuas das palafitas, tomadas de 3 pinos, sandálias de borracha, aparelhos celulares e outros pertences para chegar perto dos cinco bilionários brazucas. Isto por hipótese, naturalmente, mas é algo que dá bem a medida do desequilíbrio.

O mesmo relatório divulgado afirma que o patrimônio somado dos bilionários brasileiros chegou a $ 549 bilhões em 2017, num crescimento de 13% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, os 50% mais pobres do país viram sua fatia da renda nacional ser reduzida ainda mais, caindo de 2,7% para apenas 2%.

Apenas para fazer junto com o leitor um mero exercício: o que aconteceria com o Brasil se os tais cinco bilionários iluminados que têm patrimônio equivalente à metade da população, combinassem uma partida de golfe longe do solo pátrio e transferissem toda a grana pra lá, enquanto brincassem nos buraquinhos do campo? Parece algo tão impensável que pouquíssima gente deve ter de fato conjecturado isto. Voltemos ao mundo real, pois não.

A proporção de 5 x 100.000.000 é uma relação tão perversa, que não faz sentido, seja no viés puramente humano, seja sob a ótica do mercado concorrencial de um modelo capitalista. Deixar os ricos cada dia mais ricos e os pobres a cada dia mais pobres/miseráveis não sustenta nenhuma equação. Em tempo: acho provável que a fortuna amealhada pelos cinco cavaleiros seja legal e meritória. São pessoas argutas e capazes. Mas a distribuição da riqueza continua sendo indecente. O Brasil é um parâmetro às avessas, no quesito distribuição de renda.

Atualmente surge um novo “super rico” a cada dois dias, no mundo. Essa casta bilionária é composta por 2.043 membros. Do outro lado do gráfico, mas vivendo no mesmo planeta, a metade mais pobre da população mundial (cerca de 3,7 bilhões de pessoinhas) vive com renda entre US$ 2 e US$ 10 por dia.

Se a questão da sustentabilidade for discutida a sério pelos diferentes agentes da sociedade civil, governos e formadores de opinião, chegarão à conclusão de que é preciso dar um breque no atual modelo e rever conceitos. Não é com o atual status econômico-social que teremos um planeta mais equilibrado. Nem do ponto de vista humanitário, tampouco do capitalista que tem fome de mais e mais mercados a cada dia. E não há mercados sem consumidores, vamos combinar?

A balança está torta. E se faz necessário reequilibrá-la, pois se recordarmos o velho adágio de que o “cachimbo faz a boca torta”, ainda dá tempo de arremeter e fazer um pouco correto.