sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A vida medida em HPs

No último dia 25 um avião militar britânico deixou o aeroporto de Cabul, capital do Afeganistão, levando algumas pessoas para longe do inferno que está se tornando o país em meio a tiroteios e atentados. É certo que muita gente ficou pra trás, ainda. Alguns desses poderão nunca ter a chance de sair de lá, apenas a vontade. Afinal, daqui a pouquinho vai cessar a retirada.

O que chamou a atenção no avião cargueiro foi um impávido “jipão” embarcado junto de uma seletiva galera. Com seus 2.270 Kg, o Toyota Land Cruiser (modelo daquele colossal veículo) tem o peso equivalente a 32 pessoas (se considerado aquela estimativa `de elevador`, de 70 kg per capita). Em um cálculo (ocidental) de quatro pessoas por família, equivale dizer que oito famílias foram deixadas pra trás para acomodar o jipão. Argumento, lido na internet, é que o Land Cruiser era um veículo muito bom, e moderno, e que os britânicos não queriam deixa-lo cair em mãos malvadas.

Feitas as contas, o intrépido veículo (vendido a US$ 126,5 mil) tomou o espaço de 32 pessoas que, avaliadas, por este critério, valeriam cerca de R$ 20, 7 mil cada uma. Uma merreca de dinheiro, convenhamos. E se o cálculo for por HP, divididos os 204 cavalos de força daquele motor pelas cabeças humanas deixadas pra trás, daria aproximadamente 6,296 HP/per capita. Além de ter um valor comercial bastante baixo, o número de HPs é ínfimo.

Na prancheta, o transporte do jipão foi bom negócio para a turma militar da logística mas, aí, fiquei eu cá a pensar... e se existir um céu em que o ingresso deva ser pago por uma outra moeda, que não HPs ? E se cada uma dessas 32 vidas que “cederam” seus lugares ao cavalo de lata, pudesse produzir – ao longo de suas vidas –, bem mais riquezas para o planeta (e a Vida) que o jipão? Com que cara São Pedro iria preencher a ficha da turma da logística?