domingo, 26 de fevereiro de 2017

A rosca. Com ou sem fim?

A estética da linguagem não pode ser a mesma daquela “estética televisiva” que tomei conhecimento, pela internet, no dia seguinte ao fato. Uma dançarina, ou atriz, ou modelo ou sei lá como a mulher se autoclassifica, porque desta nunca antes na história deste país eu tinha ouvido falar, “notabilizou-se” na telinha ao exibir o seu esverdeado orifício corrugado. Não do jeito que veio ao mundo, mas do jeito que o mundo a deixou. Na tv aberta.

A cidadã, pintada com as cores da bandeira nacional, eu suponho, ou homenageando o último campeão brasileiro de futebol (também poderia ser...), tinha as costas – dos pelinhos dos ombros à última covinha do derrière – decorada em verde escuro.

A dupla de apresentadores Nelson Rubens e Flávia Noronha estava apoiada por uma travesti cumprindo o papel de repórter cover e os três pediram à moça – que só tinha camada de tinta sobre o corpo – para dar uma abaixadinha, na frente da câmera. Ela não se fez de enrugada, digo, rogada, e desceu tudo. Na sequência, pediram a esta burlesca figura que fizesse o mesmo movimento , da abaixadinha, mas de costas.

Lembrando o que poderia ser o desfiladeiro do Arizona (nos EUA), o conhecido Grand Canyon, em uma escala de ... bem, em uma escala reduzida, a entrevistada lançou a profundeza de sua alma para o respeitável público conhecer.

Este escriba nunca teve vocação para ser crítico de cinema, de teatro e tampouco de tv. Mas como espectador vou me permitir entrar no assunto – entrarei exclusivamente neste, prometo – e opinar: nunca, desde os longínquos anos 60 do século passado, quando a tv ainda transmitia em preto e branco, eu lembro de ter visto algo tão grotesco. Escancarar o orifício, hoje já semi corrugado, para a câmera, em “rede nacional”, não é algo de se esperar. Não pelo menos para este velho homem de imprensa que se acostumou a ver na tv os desenhos da Turma do Manda Chuva, do Pica-Pau, Gasparzinho e seriados tipo Bonanza e Família Trapo.

Gosto de coisas mais ousadas também, como o jogo do Bayern metendo 8 x 0 no Hamburgo, ou os carinhas do esporte abrindo a 1ª rodada do Campeonato Brasileiro e colocando – ano após ano – o Cruzeiro e o Internacional como favoritos.

Ousadia também admirável é aquela do dr. House zuar com a cara de todo mundo – trocar o comprimido de tylenol por um de purgante – e ninguém lhe dar uma sonora porrada nas fuças. Outra admirável ousadia é alguém da redação do canal de notícias líder de audiência da tv paga colocar o lettering assim: “Deputado Eunício de Oliveira, presidente do Senado”... E repetir, no mesmo jornal, outras 3 ou 4 vezes. Isso é ousadia.

Mas o Grand Canyon, ainda que em escala reduzida, não. Isso não é ousadia. Já assisti a vários filmes de sacanagem – sem ter nada a ver com a previdência social, é bom deixar claro – em que moçoilos e moçoilas faziam trapézio, davam três mortais sem tirar, cangurus pernetas e outras acrobacias. E o conjunto da obra era, digamos, mais lúdico. Nem sempre tão mais encarquilhados ou preguilhados, porém de uma forma mais adequada, pois o roteiro te conduz ao caminho.

Acusada de maus tratos às retinas alheias, a distinta senhora de verde poderia descobrir logo a sua vocação. Se for algo mais sorumbático que assim seja, ou se resolver entrar no espírito congressual que o senador Romeiro Jucá definiu dias atrás como “suruba é suruba” e quem nesta entra deve estar preparado para tudo, que assim seja também. Afinal... fiofó é igual opinião: todo mundo tem e faz deste o que melhor lhe aprouver. Mas, por gentileza, se nos fizer algum favor, não precisa jogar na cara ok?