segunda-feira, 17 de julho de 2017

Haja fé !

“O que roubam do Brasil de dia, ele cresce à noite”. Em momentos como este que vivemos, a frase voltar a soar em meus ouvidos. Já vai longe a década de 60 do século XX, mas a lembrança volta. Quem dizia isso era meu pai. Ele não era propriamente um cientista social, tampouco militante político, mas como classe média-média de bom nível cultural, gostava de falar sobre política e economia. Com os adultos, é bom registrar, pois nessa época crianças eram afastadas das conversas “de gente grande”. E eu era apenas uma criança, que ouvia, com curiosidade, tudo o que o pai falava. Mas não ousava lhe questionar ou, menos ainda, lhe dirigir a palavra sem o prévio consentimento. Era uma outra época, de costumes inclusive.

Hoje, refletindo sobre este arquivo instalado em meu hardware, penso que ele era um otimista. À maneira dele, era um otimista. O Brasil, com seu extraordinário potencial de “país do futuro” (era assim que o chamavam), parecia ser uma fonte inesgotável de pujança econômica e de crescimento em vários setores e sentidos. Tal qual a água doce, pura da nascente, a sensação é que o Brasil cresceria infinitamente e de forma independente dos predadores de plantão e amigos do alheio. Nos engamos com a água e com o país. Analisar o que ficou pra trás, hoje com planilha de dados e internet, está fácil contestar o que se falava há 30, 40, 50 anos... Na época do ieieiê e da explosão da Jovem Guarda, o perfil do país era muito diferente. E no pós-golpe o nível de informação (na quantidade e na qualidade) era incomparável com o que temos hoje. Mas o fato é que o país mudou. Só pra ficarmos em único exemplo, com o financiamento dos “isteites” e de dinheiros correlatos, o Brasil passou a crescer forte na década seguinte. Os governos militares se jactavam em dizer que tinham melhorado a vida de todos e até o ministro da grana apelidou a fase de “milagre econômico”, com crescimento acima de 10% a.a. Eram os anos de chumbo, de brutal repressão política e restrição das liberdades (leia-se gente morta, desaparecida e desterrada), mas no contraponto havia dinheiro fácil e crescimento econômico.

Anyway... uma lufada passou pelo país. Com a felicidade de uns e infelicidade de outros.

Depois disso vieram a “democracia relativa”, a “abertura”, as eleições presidenciais indiretas e, por fim, as diretas. Pessoas não eram mais perseguidas, torturadas e desaparecidas com a mesma frequência e o país foi se modernizando e humanizando. Mas a turminha que controlava o “pudê” volta e meia protagonizava escândalos. Era muita maracutaia que se tinha notícia – já nos anos 1980 era deputado ganhando trocentas vezes na loteria, escândalo da mandioca (empréstimos do Banco do Brasil com juros subsidiados a pretexto de se plantar o tal tubérculo, mas não foi o que aconteceu) e tantos outros – que a gente até perde a conta.

O fato é que meu pai e a geração dele subestimou a capacidade roubativa (com licença para o neologismo) da brava gente brasileira que tinha as chaves do cofre. Vieram os anos 90 e... do governo Collor, de infausta memória, nem quero falar. O caso ainda é recente na história e certamente permeia a lembrança de grande parte da população. Na sequência houve privatizações nem sempre bem explicadas e o escândalo do mensalão, já neste século, que, aliás, só ficou “pequeno” comparativamente ao da Lava Jato, que ora vivenciamos.

É estarrecedor o que se ouve pelas esquinas do Brasil. Histórias que precisam ser checadas e outras que nos chegam em tempo real das tais delações premiadas. A sensação é que a sujeira ficou de tal maneira incrustrada que nunca mais vai sair. Ou seja, quanto mais se raspa, se lava, mais camadas são descobertas.

A minha dúvida agora é a seguinte: o que digo para os meus filhos (tenho 2 ainda menores)? Que o Brasil está sendo passado a limpo e que num futuro próximo estaremos todos felizes e satisfeitos ou... que tratem de arrumar as malas dentro em breve para tentar a vida em outro canto da Terra, porque a luta das gerações anteriores a eles foi em vão?

Nenhum comentário:

Postar um comentário