sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cobras & Largartas, Borboletas & Porcos-espinhos...

Demonizar adversários e desconstruir imagens é uma prática política relativamente antiga. Quem está no poder sempre procurar auferir as vantagens que esta vitrine lhes dá e passam a tripudiar aqueles que estão abaixo do topo. Da mesma forma, quem está fora do poder sente-se "estilingue", com "direito" a lançar pedradas à vontade na vitrine.

Cabe a nós discernir o que é sério daquilo que é na verdade apenas jogo de cena.

PRIMEIRO REINADO
No Brasil - e neste mundão afora - a coisa raramente foi diferente. Os aliados da Corte viam em Pedro de Alcântara o primeiro herói nacional, homem dotado de espírito crítico, com poder de articulação e de uma coragem acima de qualquer outro. Já seus detratores preferiram minar-lhe a resistência política, desconstruindo a imagem do "fundador do Brasil", imputando-lhe características como beberrão, de inteligência baixa e libido acima da média para um Imperador... Esses mesmos "estilingues" espalharam que a "primeira dama" da época era quem efetivamente tinha poder de articulação, inteligência, cultura, boas maneiras etc e que o sr. seu marido se perdeu quando parou de ouvi-la e descambou de vez pro lado da amante...

SEGUNDO REINADO
Mais tarde vieram os entusiastas do Segundo Reinado e colocaram Pedro II como o "primeiro e verdadeiro" estadista brasileiro. Homem culto, preparado para o cargo, e responsável pelo grande desenvolvimento do país -- nunca é demais lembrar que, entre outras coisas, o Brasil foi um dos primeiros países a ter telefonia no mundo (pena que a Telefónica, VIVO, OI, CLARO E TIM não devam saber disso...)

Do outro lado, não faltaram críticas ao mesmo Pedro II pela inaptidão em conduzir a sucessão de Isabel (para a terceiro Reinado) e de "entregar o país à Inglaterra", originando a tal da dívida externa brasileira (bicho mais feio que a Medusa...)

REPUBLICANOS
Vieram os republicanos e, guardadas as proporções, foram lançadas críticas ao vento esparramando-se pra tudo quanto é lado. Logo depois são os tenentistas, os comunistas, os getulistas e por aí segue.

O PSD (o original, não o genérico) e a UDN se digladiaram enquanto existiram. Pra se dizer o "mínimo", os sociais-democratas da época eram tachados como irresponsáveis, perdulários etc, enquanto os udenistas eram por esses mesmos adversários chamados de “os maiores reacionários” da História do Brasil. O PTB também não ficou de fora dessa guerra de farinha e ovo: era tido como precursor do populismno barato.

O "SIM" E O "SIM SR."
Veio o golpe e com ele o maquiado bipartidarismo: Arena (partido oficial, de apoio aos governos militares) e MDB (amontoado de todos quantos eram contra o regime) ficaram em cena até 1979, quando se extingue o modelo bipartidário e se abre para o que temos hoje: PMDB, PDS (e seus sucedâneos), PT, PTB, PDT etc. Em tom de blague, dizia-se à época que a Arena (Aliança Renovadora Nacional) era o partido do "SIM" e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) era o do "Sim Sr."

Do chamado "PMDB autêntico" nasceu o PSDB e o PT se depurou com a saída de diversos grupos que mais tarde viriam a formar o PCO, PSOL etc. São estes dois - PT e PSDB - que hoje mais se destacam no cenário nacional (a exemplo de blancos e colorados na Argentina e Uruguai, ou dos Democratas e Republicanos nos EUA), embora a gama de legendas seja grande.

VENDENDO A ALMA
Alguns dos "autênticos" do velho PMDB, já revestidos com a plumagem tucana, uniram-se aos antigos desafetos para a conquista do poder. O PSDB do ainda mais antigo democrata-cristão Franco Montoro uniu-se ao PFL de ex-udenistas como Zé Sarney, ACM etc etc etc. O que aconteceu com o PSDB na ânsia de abocanhar o poder fez vários brasileiros se revirarem no caixão, tamanha era a falta de coerência. Trocou-se a ideologia por uma "aliança de resultado". Aí foi a vez do PT - até então imaculado na sua postura quase purista de ver e fazer política. Já não era mais um estilingue, mas sim um canhão de grosso calibre disparando contra uma frágil vitrine de vidro mal temperado.

Mudaram os políticos, ou a feia lagarta tinha se transformado em borboleta ?

Quando lhe cobraram coerência, já no poder, o intelectual Fernando Henrique chegou a dizer em alto e bom som: "Esqueçam tudo o que escrevi!". E o PSDB `vendeu sua alma ao diabo´ para governar. Mas como diria o poeta Cazuza, o tempo não pára, não páraaa (quando ele disse isso o PÁRA, do verbo, ainda era acentuado).

Mais tarde o PT, liderado pela estrela maior do metalúrgico Lula, ganhou a eleição com um discurso verdadeiramente progressista. Bateu, desde sempre, nas velhas e corroídas oligarquias tupiniquins. Pregou mudanças sociais, criticou o modelo econômico e por aí vai. Desnecessário enumerar todo o rosário de campanha.

Com a mesma sede de poder que tinha seu maior opositor - o partido tucano - sentiu-se obrigado a fazer alianças para governar. E vendeu a alma para os mesmos diabos, que sempre saem do andar de baixo para subir de elevador panorâmico rumo aos céus de Brasília. O partido não só continuou o programa econômico do sr. Pedro Malan & Cia, como fez aliança com o que de mais "autêntico" existe na representação oligarca brasileira: Zé Sarney, ACM, Jader Barbalho etc etc etc... Ou seja, para ilustrar a história, o "progressista" PT aliou-se ao que de "mais reacionário" existe na política nacional: velhos quadros da UDN, recheados por neo-udenistas como Fernando Collor, os bispos que se aninharam no PR etcaterva.

APELAÇÃO
Bem mais recentemente, no embate eleitoral da maior cidade do País, o PT do "Lulinha paz e amor" retomou as origens do "sapo barbudo" (como um dia Leonel Brizola apelidou o candidato Lula) e saiu batendo, xingando e praguejando. O então candidato a prefeito José Serra, pelo PSDB, foi demonizado pelos opositores. Seu vice, Gilberto Kassab (saído das lides do PFL), foi achincalhado brutalmente. Não faltou sequer a lembrança dele, Kassab, ter sido secretário do governo Pita (disparadamente um dos piores em 458 anos de história da cidade).

E deu no que deu. Serra venceu a eleição, prometeu governar até o fim do mandato mas não o fez, saindo candidato ao governo. Seu vice Kassab virou prefeito. Animado com a sentada na cadeira de prefeito (o que FHC só conseguiu pelo curto espaço de tempo para fazer uma maldada foto de véspera de campanha quando perdeu a eleição para Jânio Quadros, diga-se), saiu à reeleição. Até aqui virado pro lado dos tucanos... o ex-PFL, Democratas e agora líder do novo PSD, foi duramente demonizado pelos adversários. A ponto da então candidata do PT, a psicóloga e sexóloga Marta Suplicy, questionar a sua sexualidade.

(Cazuza: o tempo não pára, não páraaa...)

Decorridos poucos meses e... PASMEM... Gilberto Kassab é acariciado pelo PT. A ponto de ter sido convidado a participar da festinha dos 32 anos de criação do Partido dos Trabalhadores. O antigo "coisa ruim" contra qual alguns petistas até faziam trocadilho com a sigla do partido (DEM), chamando-o de "demo", agora é cortejado para compor uma aliança a fim de ocupar a sede do antigo prédio ´Banespinha´ no Viaduto do Chá.

Ao contrário do que fez a sexóloga, sempre muito liberal, na última campanha, a agora senadora Marta teve um lapso de coerência e não apareceu à festa do PT por conta desde demo-convidado. Mas... a dona Marta é apenas uma reduzida fração do partido. O seu chefe-maior, Lula, que (virou "amigo" de Zé Sarney, chegando a afirmar que o oligarca-mór e decano senador não é uma pessoa comum - quando este estava sendo julgado por eventuais irregularidades cometidas) inclusive barrou o ímpeto de Marta concorrer à Prefeitura paulistana novamente, em favor Fernando Haddad, é um incentivador da aliança com Kassab. Como também ATUALMENTE o são Zé Dirceu, Dilma, Silvinho, Delúbio Soares e por aí segue a lista.

Para quem está de fora é de se perguntar: afinal, mudaram-se os políticos ou as lagartas ?

No futuro – e no presente – os jornalistas absolutamente descomprometidos com candidaturas e alianças político-partidárias haverão de cobrar coerência. Doa a quem doer.

2 comentários:

  1. Prezado Nelson, excelente crítica... cuidado, vão te chamar de Arnaldo Jabor rs rs rs... Mas como você disse, "cabe a nós discernir o que é sério daquilo que é na verdade apenas jogo de cena"... A conclusão que eu chego com o seu artigo, é que na verdade não temos uma identidade política aqui no Brasil.. São tantos partidos, só procurando os seus interesses... que na verdade nenhum tem foco... Neste caso eu estou com os americanos, tem dois partidos distintos... cada um deles tem bem claro a sua causa, a sua missão... Josué

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  2. É meu amigo Nelson, já se foi o tempo em que havia fidelidade partidária. Não acredito em políticos "macacos" que vivem pulando de galho em galho. Nem eles acreditam no que falam...O que se perdebe hj é apenas um jogo de interesses.

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