terça-feira, 4 de março de 2014

A Crise na Crimeia – Don´t Cry seus Cri-cris

“Quanto mais aprendo, mais descubro minha ignorância”, já dissera o filósofo René Descartes. Até outubro do ano passado duvido que mais de uma centena (ou seria dezena?) de pessoas, no Brasil, sabia dizer o que era, onde estava e do que se tratava a Crimeia. Com os recentes conflitos de rua, a coisa foi ganhando notoriedade e aí começaram a pulular mapinhas prá lá e prá cá. SEGUNDA GUERRA - Eu mesmo já tinha ouvido falar sobre (devido ao pau que comeu naquela região durante a Segunda Guerra e, pela história escolar, da famosa Guerra da Criméia, no século 19), mas confesso que se alguém me largasse no aeroporto de Frankfurt ou de Moscou e me mandasse ir prá lá (sem GPS ou um Google maps) demoraria pelo menos uns 6 meses pra descobrir onde, afinal, fica a tal da Crimeia. Que latitude? Longitude? Agora sei que fica exatamente na costa setentrional do Mar Negro e que as cidades mais importantes são Simferopol, Sebastopol, Kerch, Eupatória e Teodósia, que Perisades V já mandou no pedaço, mas pressionado pelo Citas, pediu o penico, digo, proteção a Mitrídades VI e por aí vai... Sei também que os tártaros (atenção pessoal que não lê mais que 3 linhas de texto: tártaro, neste caso, é o povo, não aquele do dente, ok?) chegaram antes e que adoram a sopa borsch, de beterraba, além de batata e repolho. E... se bobear ainda dou a escalação do time vice-campeão de curling de lá. Ah, nada como a internet... Os `das antigas` tratavam o Dicionário como “O Pai dos Burros”. Hoje, a internet é “A Mãe”. Com o devido cuidado, pra nenhum jumento te inquirir pela prática de `bullying´. A mãe é mais generosa com os quadrúpedes, porque nunca diz não. OS ESPECIALISTAS - Mas entre um zurro e outro... ou escrever nas redes sociais – em que inúmeras ocasiões dá no mesmo – aparece algum (a) maluco (a) tratando do assunto Crimeia. É interessante como nestes últimos dias tenho visto “especialistas” em Crimeia... Боже мій !!! (Tradução: My God !) Tem neguinho falando o que vem à cabeça, o que ouve no Manhattan Connection, ou o que leu na Veja e na Carta Capital. É um tal de golpe de direita pra lá, golpe de esquerda pra cá, clinch, jab e mais um amontoado de coisas que muitas vezes são frutos de um tal de Ctrl C + Ctrl V... No entanto, o (a) cara “se acha” porque anda cheio (a) de opinião. PQP ! Já reparou como o povo brasileiro é fantástico? Somos um país ainda todinho por fazer e, no entanto, volta e meia aparece especialista pra tudo quanto é assunto ! E O POVO? - Ninguém vai lá e pergunta pro motorista de ônibus, pros caras que cuidam das roscas (diversas) das tubulações de gás, pro verdureiro, pra dona de casa ou pro estudante “Che cazzo” (com respeito ao papa, mas a expressão vai se popularizando agora fora dos círculos oriundi) se fará com a Crimeia? O que a população verdadeiramente deseja? L´armata d´Itália – O argumento de que 60% da população local descendem de russos e falam melhor o russo que o ucraniano (como era o caso do presidente deposto, me parece) não quer dizer NADA. Nadica de nada. É de uma imbecilidade sem tamanho esse “argumento analítico”. Quer ver? Não é porque eu, Nelson Tucci, sou descendente de italianos que apoiaria uma invasão italiana ao Brasil. Ou, porque falo português melhor que o italiano que ficaria feliz com uma invasão portuguesa ao patropi. Quer saber o que eu acho? Então venha apertar a minha mão e olhar nos meus olhos que eu te direi. Da mesma forma pode ser um engano brutal pedir uma intervenção norte-americana a fim de “libertar aquele povo do jugo opressor”... O JORNALISTA - Por isso é muito legal ser jornalista. Nessas horas eu penso: como não sou tão sabido e importante quanto o coleguinha William Waack, (que muitas vezes quer demonstrar saber mais que seus entrevistados), e nem tão inteligente quanto os “especialistas” de ocasião, confesso que pra entender alguma coisinha de Crimeia e procurar saber o que, de fato, a população deseja, precisaria estar lá AGORA, andando de ônibus, pegando táxi, conversando com as putas, lendo jornais, falando com ateus e cristãos. Mas como não farei isto, então In questo cazzo... voglio lasciare questo spazio ... la mia profunda indignazione con cazzi di specialisti occasione. Punto e basta.

3 comentários:

  1. É isto mesmo Tucci, é mais uma questão étnico-cultural, decorrente do desmantelamento da União Soviética. A maior parte das ex repúblicas possuem uma parte da população de origem russa. No caso da Ucrânia, o oeste e a região central são de maioria ucraniana e o resto tem maioria russa. Não lembro onde ouvi, mas me pareceu uma analogia interessante com o caso da antiga Checoslováquia, pacificamente se dividiram e nasceram as atuais Eslováquia e República Checa, apesar de ambos os povos serem de origem eslava. Como eram os povos da antiga Iugoslávia que se dividiram de forma violenta. Resumindo, o problema está mais ligado a criação de estados artificiais, como são a maioria dos estados africanos, ou como é o caso da Espanha onde os catalães e os bascos também desejam a independência do reino espanhol, basicamente castelhano, ainda, cito o caso da Irlanda com os ingleses. Voltando aos ucranianos, um dos problemas de uma provável e eminente separação é a perda da saída para o Mar Negro, pois, além da Ilha da Crimeia todo o litoral tem maioria russa. Concordo contigo que não é uma questão ideológica e sim mais étnica e cultural. Destaco, também, que os russos e ucranianos se odeiam há séculos. Espero que haja uma solução parecida com a da Checoslováquia ou a implantação de um sistema federalista democrático, o que é muito difícil, tendo em vista que até no Brasil que não há problemas étnicos tão fortes, vivemos num federalismo de fachada.

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  2. Excelente comentário, meu amigo. Obrigado.

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  3. Secundo o comentário do Cesar. A questão ali é étnica, nada a ver com ideologia, até porque, a ideologia de ambos é mais ou menos a mesma: Totalitarismo.

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