quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Fim da hipocrisia religiosa no futebol

'Seleção não é lugar para pregação'.
A afirmação é do técnico Mano Menezes.

A idéia é simples e o ato também. Em outros tempos certamente seria. Mas ultimamente alguns exércitos evangélicos, que estão cada vez mais em voga, criam situações que os tornam uma espécie de ´donos da verdade´ - na cabeça de quem professa essa fé.

O que eram manifestações isoladas, no passado, atualmente tornaram-se uma “quase obrigatoriedade” de líderes e pseudo-líderes de seitas das mais variadas denominações. Tem gente que lê a Bíblia mas não entende. Fala em nome de Deus, mas age como um demônio, infernizando a vida dos outros. Exemplos não faltam. Infelizmente (Aqui mesmo nesse blog tem um comentário sobre a troupe de Robinho & Cia, ainda no Santos, negando ovos de Páscoa a crianças carentes).

Voltando à Seleção Brasileira de Futebol, que precisa se preocupar com futebol e não com seitas religiosas, mensagens, ritmos dançantes e tantas outras coisas periféricas que muitas vezes tiram o foco. Ninguém deve ser obrigado a gostar de pagode, nem de chorinho, nem de sertanejo, nem de funk, nem de pastor evangélico, nem de coisa nenhuma. Se o Estado brasileiro é laico e a Seleção de Futebol o representa a cada jogo oficial, deve sê-la também.

O PASTOR-GURU
É de conhecimento público que durante a última Copa do Mundo, um tal de pastor Anselmo Alves, de 51 anos, esteve presente tempo integral no grupo de Dunga. O cidadão parece que se tornou uma espécie de ´guru´ do time canarinho desde a Copa do Mundo de 2002. Veja a que nível chegamos.

Em 2002 o Brasil ganhou o título, no Japão, mas em 2006 perdeu de forma bizarra. Existiram comentários dando conta que teria acontecido um “racha” entre o grupo de jogadores evangélicos e os demais, em 2006. O zagueiro Lúcio (da ala evangélica), capitão do time na África do Sul, tratou de desmentir.

Rituais e pregações são um assunto fácil de se resolver. Cada qual que professe a sua fé, individualmente, e não incomode outrem ! É a regrinha simplória do respeitar para ser respeitado. Simples, né? Mas diante da inércia, o culto àquilo que certos evangélicos entendem com o melhor para a Humanidade foi contaminando ambientes e se tornou algo “delicado”. A exacerbação de gestos, inclusive com jogadores brasileiros comemorando o título com camisetas escritas exaltando suas crenças, levou a FIFA a proibir manifestações religiosas de quaisquer orientações. Ponto pra FIFA !

Imaginem agora o que poderia ocorrer se não existisse um freio ?
Vamos fazer um exercício democrático do pensamento. Será que os evangélicos aceitariam ´na boa´ um pai de santo, ou babalorixá, liderando o grupo, como guru espiritual ? Sim, porque poderia existir uma facção umbandista ou afeita ao candomblé, na própria Seleção canarinho, e tentar ´eleger´ um sacerdote para representá-los em nome sei lá de quem. E quem duvida que isto pudesse acontecer, de fato ? Deixa só o Bahia e o Vitória começarem a revelar mais jogadores bons de bola pra vocês verem...

Faria sentido um padre, de batina e tudo, ficar rezando missas na concentração ? Faria sentido o padre obrigar as pessoas a rezar a missa junto com ele ? Para os católicos talvez mas para os demais eu duvido.

E um líder budista, escrachando com Jesus, e comandando espiritualmente a Seleção, até aproximá-la do Nirvana ? Todo mundo aceitaria, na boa ?

Agora vamos levar a coisa adiante, desta vez para o âmbito extra-Seleção Brasileira. Dá para imaginar em plena Copa do Mundo uma equipe árabe, com a maioria de seus atletas professando a religião muçulmana, comandando o espetáculo em campo, de acordo com seus preceitos religiosos ? Você consegue imaginar os jogadores, TODOS, pararem em determinado tempo do jogo, se ajoelharem voltados para Meca, para a oração? E na língua de Maomé ?

Em minha opinião – e BLOG pessoal é pra isso mesmo, pra emitir opinião – a FIFA acertou em cheio quando proibiu manifestações religiosas.

Tão boa quanto a determinação da FIFA é a atitude de Mano Menezes, o cara a quem tenho elogiado frequentemente neste BLOG e fora dele também. Cada indivíduo deve ser respeitado em sua crença, mas desde que não encha o saco dos outros. Ninguém pode obrigar uma outra pessoa a seguir estritamente o que acredita ser o melhor.
A Seleção Brasileira é de Futebol e como tal deve cultuar o FUTEBOL. Os pastores, apóstolos e messias de plantão que fiquem perfeitamente à vontade para pregar em outra Freguesia.

Mano, sou ainda mais teu fã.

2 comentários:

  1. Caro Nelson

    Ponto para a Fifa - sem dúvida - e para você, que não demonstra receio nem hipocrisia ao abordar o assunto. Não quero entrar no mérito da questão do negócio da fé que, como temos visto, é sórdido e anos-luz de distância de Deus (seja Ele quem for na concepção religiosa de cada ser humano). Tenho escrito regularmente denunciando tal desvirtuamento do propósito religioso. Quero, nesta oportunidade, destacar o jogador que louva a Cristo, exibe dizeres em camisetas por baixo do uniforme do clube, olha os desiguais de cima para baixo e só falta exigir ser tratado como autêntico santo, em contatos com a mídia e declarações públicas, antes do jogo. No gramado, esse mesmo jogador desrespeita o árbitro, cospe no adversário, xinga a mãe do colega, e pratica tentativas explícitas de quebrar a perna de seu "irmão". Atletas célebres e famosos mundialmente, creditam a deuses tanta fartura e, claro, à fé que professam. Como se o deus que escolheram fosse parcimonioso e insensível, contemplando alguns com tanto e tantos sem coisa alguma. Inclusive jogadores do mesmo clube ou da mesma seita e, quem sabe, mais fervorosos que a média, mas sem a notoriedade dos bem-aventurados. Basta ao futebol despertar paixões de torcedores. Tem sido assim ao longo dos anos e resiste e cresce exatamente no terreno das paixões. Transformar o futebol em curral de onde serão arrebanhados fiéis é descaracterizar a ambos, ao futebol e à religião. Imagine a mistura e, em pouco tempo, poderemos assistir a cenas tão despropositadas quanto surreais de torcedores adversários mandarem a mãe de Deus para aquele lugar... O futebol brasileiro, assim como o Estado, deve permanecer laico. Ao jogador, em campo, compete jogar. É pago para isso é só. Ao torcedor, no estádio ou fora dele, cabe o direito de escolher o time do coração e a religião que quiser. E que a escolha seja a melhor para o espírito de cada um.

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  2. Excelente!
    Lugar de reza é na igreja.
    Campo é lugar de bola na rede.

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