sábado, 16 de outubro de 2010

Pilatos e a consolidação democrática

Prefeito da Província Romana da Judéia entre os anos 26 e 36 da Era Cristã, Pôncio Pilatos notabilizou-se na História por lavar as mãos no julgamento de Jesus, levando-o à morte com esse gesto (de acordo com a Bíblia). Pilatos era o juiz naquele instante e a ele cabia a última palavra. O gesto de “lavar as mãos”, até hoje utilizado como metáfora, perpetuou-se como sinônimo de “dar de ombros”. Ou seja, “deixa correr solto que eu não tenho nada a ver com isso”.

Em minha visão, votar em branco ou anular o voto, no segundo turno desta eleição presidencial no País, é ato que encontra paralelo no gesto de Pilatos. Guardadas as devidas proporções no tempo e na História, o eleitor que acha legítimo apertar o botãozinho do “F...-SE” neste pleito, pode estar prestando um desserviço à causa democrática.

Pois ao abandonar o processo de escolha terá criado para ele (a) próprio (a) uma desculpa esfarrapada para o futuro. Seria algo do tipo: “Não tenho nada a ver com isso, pois não votei nessa cara/nesse cara”. Respeitado o direito de cada um de fazer o que melhor lhe aprouver, vejo como uma espécie de “covardia cívica” tal atitude.

Não importa se votará pela continuidade, afirmando seu compromisso com o atual status quo que deva lhe servir, ou se pretende trocar o inquilino do Palácio por uma candidatura de oposição, apostando em mudanças substanciais. Cada qual faz a sua opção. O que incomoda é essa desfaçatez com a democracia.

E o pior de tudo – MUITO PIOR eu diria !!! – é ter ouvido essa pré-desculpa esfarrada de gente que se acha informada e formadora de opinião. Quem sabe até o dia 3 num cai a ficha e “neguinho/a” bota a mão na consciência e lembre do quanto é difícil se construir uma democracia real.

Nenhum comentário:

Postar um comentário