sexta-feira, 18 de março de 2011

De terno e estilingue no bolso

Os meninos vão entender a mensagem e as meninas que tiveram irmãos também.

Antes de existir a internet e as torcidas (?) organizadas de futebol para marcar ponto de encontro para se matar e as academias de artes (?) marciais para ensinar os garotos e - garotas ! – a dar golpes mortais, quebrando ossos e o pescoço alheio, os moleques (generalidade para todo menino que já sabia abrir o portão de casa sozinho e ganhar a rua) se reuniam com os vizinhos.

Mais que simpatias e antipatias locais (isto é, na própria rua), existiam rivalidades entre “a turma da rua A” e a “turma da rua B”, ou da “rua de cima”, da “rua de baixo” etc...

Mocinhos, passaram a “disputar” a atenção das meninas mais bonitinhas. E as brigas de rua tinham outra, digamos, tonalidade. Quando adultos, amadurecidos (não todos, mas alguns deles certamente), passaram a ter convivência social. Desta forma, era preciso se cumprimentar em eventos, falar em tom moderado e fingir que eram pessoas amigáveis entre si. Ainda que residisse uma pontinha da velha rixa no coração, o cérebro ordenava outra coisa: CIVILIDADE.

Assim são Brasil e Argentina. Outrora rivais econômicos e sociais e inimigos declarados nos esportes, com alta relevância para o futebol, hoje são países amigos. Ou pelo menos fingem sê-lo, para consolidar a estrutura do bloco comercial mais importante da América Latina, o MERCOSUL.

Com a mesma ginga de Servílio de Jesus, Mané Garrincha, Pelé, Denílson, Cafuringa, Robinho e Neymar, o Brasil tem feito o papel do “menino crescido” e tem sido cordial com los hermanos. Bem mais do que deveria, dizem os ainda ressentidos com o resultado da Copa de 78, e tarde o suficiente, diriam os pragmáticos. Mas o fato é que o Brasil tem sido um gentleman à mesa de negociações e um facilitador do bloco.

Do lado oeste do Rio da Prata, as coisas não tem se dado da mesma maneira. Parece que os eloquentes garotos de lá ainda não se deram conta de que o país está alquebrado e que uma via simples – e inteligente – para soerguer a economia local é fazer alianças cada vez mais amplas com o gigante continental que lhes estende a mão.

Depois das autopeças, geladeiras – e uma infinidade de outros itens – os argentinos obstaculizam a entrada de calçados brasileiros. Nada menos que 500.000 pares de calçados estão parados neste momento aguardando a boa vontade portenha para entrar naquele país e ser entregues aos clientes que já efetuaram a compra.
O menino argentino cresceu brigando com o brasileiro. Fingiu estar mais tranquilo quando adolescente, mas adulto anda de terno e ainda com um estilingue no bolso.

Aos meninos ranhetas e remelentos, uma sugestão: que leiam Fernando Pessoa. Vai lhes fazer bem.

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”

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