sábado, 20 de novembro de 2010

ARTIGO publicado na PLURALE em Site - Os arremessadores de sofás nos rios e os agentes multiplicadores da vida

04/11/2010 | 09:01


Os arremessadores de sofás nos rios e os agentes multiplicadores da vida
Nelson Tucci, Colunista de Plurale (*)

Em um passado não muito distante algumas pessoas imaginavam que a água e os espaços disponíveis nas cidades eram infinitos. Havia ingenuidade de parte dos mais humildes – em relação à reciclagem natural da água – e má fé dos espertalhões que vilipendiavam o espaço público. A criação indiscriminada de lixões é um exemplo (mau) acabado da segunda situação.

Além dos efeitos deletérios que os lixões provocam no meio ambiente, através do chorume que contamina lençóis freáticos, do convite à proliferação de ratos, de insetos e uma série de outras barbáries que poderíamos tratar até como um capítulo à parte de “lesa Humanidade” (expressão em desuso, mas entendo adequada ao momento), do ponto de vista da civilização não cabem mais os depósitos de lixos a céu aberto. Entramos no Terceiro Milênio, lembre-se sempre disto.

A responsabilidade hoje é de todos e não apenas de uns poucos. É preciso estarmos vigilantes e colaborativos com o Planeta.

Esteve “tramitando” – e só Deus sabe por quais gavetas andou – projeto criando a Política Nacional sobre Tratamento de Resíduos Sólidos. Acredite: a coisa ficou 19 anos andando pra lá e pra cá, dentro do Congresso Nacional. Isso mesmo, DEZENOVE ANOS !!! Agora que saiu da gaveta a proposta, existe uma nova lei que fixa procedimentos para o descarte de resíduos sólidos. Mais uma lei está criada, portanto.

Mas, a nova lei não mexe com a educação ambiental. A quantas anda esta? Com quem fica a “responsa” direta pela educação da bugrada?

Será que aprovada esta lei certas pessoas vão parar de jogar sofás velhos nos rios? Borracheiros suspenderão o descarte de pneus rasgados às margens de riachos? E as quadrilhas que desovam automóveis roubadas na represa Billings (em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo) não mais arremessarão as carcaças nas águas?

Quanto mais o país amadurece, mais descobrimos nossas fragilidades.

Desde o último dia 24, a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) lançou o IPH - Índice de Poluentes Hídricos, que tem por objetivo monitorar os rios para saber exatamente QUANTO cada município contribui para a sua poluição.

O Grupo de Pesquisa e Análise do Meio Ambiente da USCS, coordenado pela professora Marta Marcondes e que tem 40 alunos voluntários juntos, começou a mensurar a qualidade dos rios agora e só terá um trabalho completo – com novas metodologias - para apresentar dentro de um ano aproximadamente. Mas trimestralmente sairão resultados parciais desse monitoramento, sugerindo ações imediatas. Embora incipiente, o IPH já recebeu consultas do estado do Ceará e das cidades paulistas de São José do Rio Preto e São Carlos.

Com isso, em breve será possível cobrar-se de cada Prefeitura a carga de poluição gerada e atirada rio adentro.

As soluções ainda não são definitivas, mas certamente caminhamos para um mundo melhor e mais organizado. Um mundo que iniciou o seu chamado processo civilizatório há mais de 10.000 anos, mas que só começou a se preocupar com o meio ambiente há menos de 50 anos.

De qualquer forma é bom – e desejável – que cada um faça a sua parte, deixando o egoísmo de lado porque não existirá mais lugar para este na civilização do futuro. Ao mesmo tempo em que criamos arcabouços de proteção e mecanismos de penalização aos inconsequentes, cabe a cada um tornar-se um agente multiplicador de consciência ambiental, pois agindo assim seremos, todos, agentes multiplicadores da vida.



(*) Nelson Tucci é jornalista, sócio diretor da Virtual Comunicação e Colunista de Plurale.

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