sábado, 20 de novembro de 2010

ARTIGO publicado na PLURALE em Site - Educação e pragmatismo empresarial

22/07/2010 | 10:04


Educação e pragmatismo empresarial, receita simples que gera resultados
Por Nelson Tucci, jornalista, é Colunista de Plurale (*)

Foto do Projeto Formare

Houve época em que as empresas cuidavam exclusivamente dos seus negócios e davam literalmente as costas para a sociedade. No início dos Anos 1990 eu fiz uma série de reportagens sobre pólos petroquímicos no Brasil para uma revista especializada. Comecei por Cubatão. Depois fui pra Capuava (Santo André/Mauá-SP), Camaçari (BA) e Triunfo (RS). Vi coisas de estarrecer.

Felizmente vivemos uma outra época. Não dá mais para esconder o “pó da China” debaixo na terra ou despejar efluentes líquidos in natura de forma impune. Ainda se fazem muitas bobagens e ações irresponsáveis, a gente sabe, mas o nível de conscientização já melhorou muito.

É certo também que os ares da normalidade democrática no Brasil contribuíram decisivamente para o processo de reorganização da sociedade, refletindo na gestão das organizações. Mais que cuidar decentemente do seu quintal, empresas foram chamadas à responsabilidade. Porque são parte integrante de uma cidade, de um país, empresas e instituições estão de olhos bem abertos no quesito responsabilidade social.

Ainda na última semana de junho tive o prazer de assistir a um excelente debate, em São Paulo, sobre o futuro do país, com foco na pós-eleição presidencial que se avizinha. Tinha jornalista, economista, consultores empresariais e um executivo pós-graduado em Administração. Este último, Antonio Mamede, fez uma colocação que me impressionou bem.

Ele relatou sua experiência com um projeto de envergadura social. Na empresa que presidiu até dois meses atrás e por onde ficou mais de cinco anos, em SP, Mamede implantou o Projeto Formare. Pra quem não conhece, o Formare é concebido pela Fundação Iochpe e tem hoje 49 empresas parceiras, tendo capacitado 4.000 educadores voluntários e mais de 8.000 jovens, entre 15 e 18 anos.

Ideia simples, mas nem sempre de fácil execução, o Formare é a implantação de uma sala de aula dentro da empresa, tendo como professores uma equipe de voluntários profissionais da própria organização que ministra um curso profissionalizante para um grupo de jovens com vulnerabilidade social que mora no entorno da companhia.

Mais que um extenso relatório de atividades, ou de um bem cuidado material impresso que vez ou outra nos caem às mãos, esse case foi comentado de maneira simples e direta pelo empresário que decidiu imprimir uma ação social firme. “Vocês não imaginam como é gratificante dar aula para esses jovens e ver o interesse deles em se desenvolver, absorvendo conceitos de cidadania”, disse Mamede, completando em seguida: “E tão bom quanto ver o resultado com esses alunos é sentir o grau de satisfação dos educadores voluntários”.

Ainda na mesma palestra ele sublinhou: “Hoje perto de 70% das empresas no Brasil têm alguma ação social. E isto é louvável, porque não faz mais sentido as organizações ficarem assistindo a toda sorte de carências sociais do país e deixar 100% para o governo resolver”.

O Instituto Ethos também tem muitas histórias para contar. A sociedade, mais madura, vai multiplicando agentes e instituições interessadas em formar um país melhor.

O IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, tem estudo (já defasado em nove anos, mas importante) mostrando que 59% das empresas com um ou mais funcionários realizam algum tipo de atividade em benefício da comunidade e que, no país, 465 companhias aplicam 0,4% do PIB (R$ 4,7 bilhões) em projetos sociais, valor próximo ao que o país investe em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Essa pesquisa IPEA ouviu 9.140 empresas entre 1999 e 2001, e os resultados afirmam que a região Sudeste é a que mais investe em ações sociais no Brasil, ficando em segundo lugar, para surpresa geral, o Nordeste, seguido-se o Centro-Oeste, Norte e Sul.

Portanto, é hora de descruzarmos os braços e agirmos de forma pragmática, cada qual dentro de suas possibilidades. O Brasil, que hoje tem a oitava economia do mundo, está abaixo da 80ª colocação no quesito educação. É preciso rapidez e assertividade na construção deste país.

Nelson Tucci é jornalista, com extensão em Meio Ambiente pela ECA-USP; pós-graduado em Comunicação e Relações com Investidores pela FIPECAFI (FEA-USP), diretor da Virtual Comunicação, palestrante e colaborador da Plurale.

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